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A aliança Irã-Hamas: Ameaça e Loucura

Desde a invasão do Iraque pelos EUA, o Presidente Mahmoud Ahmadinejad do Irã, tem assumido a posição de hegemonia regional. De fato, Ahmadinejad fala e age como se fosse o novo líder do Terceiro Mundo. O Irã está se preparando para ser o líder do "Eixo do Mal" do Oriente Médio com seus aliados radicais. Um aspecto importante do novo alcance "hegêmonico" iraniano é a aliança crescente de Teerã com o Hamas. O casamento entre os dois data de janeiro de 2006, quando tanto o Irã, quanto a Autoridade Palestina tiveram eleições. Sob Ahmadinejad, o Irã se tornou um estado revisionista ativo guiado por convicções religiosas radicais, enquanto o Hamas tem obtido quase o controle total da Autoridade Palestina (A.P.). Esse documento analisa as implicações de uma coalizão religiosa radical entre o Irã e o Hamas.

 

Desenvolvimento dos laços entre o Irã e o Hamas

 

As relações entre o Irã e o Hamas passaram por três estágios. No final da década de 1980, as relações entre ambos eram apenas superficiais, principalmente porque o foco do Irã estava em outros lugares. Os interesses do Irã estavam em mobilizar os xiitas no Golfo, em financiar o terror mundial, e formar o Hezbolá com um radicalismo sectário. Estas ações irritavam o Hamas - um movimento sunita radical. O Hamas também via o apoio do Irã ao Jihad al-Islami, uma facção palestina diferente, como ameaça à sua posição na arena doméstica palestina.

 

O segundo estágio começou com a invasão do Iraque em 1991, e sua restrição subsequente. Apesar da política dos EUA falar em restrição dupla, esta política foi imposta muito mais duramente no Iraque. O Irã começou a se ver como um "hegemômico" regional em potencial, ou até mesmo o líder do Terceiro Mundo. O Irã é a única potência regional a ser dotada com uma grande população e uma plenitude de recursos naturais. Nem a Turquia podia competir com essa combinação, em uma época em que o Egito, o poder regional na década de 60 e 70, e inimigo natural do Irã, continuou seu declínio relativo sob Mubarak. O Irã começou a focar o aumento do poder do estado e controle sobre as nações guiadas pela convicção radical e fanática.

 

Esta mudança na auto-percepção iraniana de uma revolução bolchevique religiosa em um poder de estado radical, ou uma stalinização de políticos iranianos, entrou em uma nova era de um relacionamento mais amigável entre o Irã e o Hamas. O Hamas foi convidado por Terrã para grandes eventos. O Irã começou a apoiar a organização financeiramente e o Hezbolá treinou alguns dos 415 membros da organização, expulsos por Israel em 1995, para Mar al-Zuhur, na arte do terrorismo. O Primeiro Ministro israelense Yitzhak Rabin, repetiu o erro egrégio de permitir a repatriação de terroristas, que foram introduzidos em uma nova era de terrorismo. Novas medidas de letalidade surgiram: o advento do terrorista suicida.

 

Mas, até a década de 90, o Hamas ainda era uma "peça" pequena no mundo - um movimento com um orçamento estimado em 50 milhões de dólares. A A.P. (Autoridade Palestina) controlada pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), passou a receber a atenção do mundo. A estrela do Hamas, cada vez mais luminosa antes de Oslo, começou a se apagar à medida em que a A.P. criou raízes. O Hamas se viu forçado a reduzir significantemente o terrorismo na segunda metade da década de 90, culminando com sua expulsão da Jordânia em 1999, e sua bifurcação. Parte da organização estava localizada na relativamente distante Damasco (um destino também experimentado pela OLP); enquanto o outro braço operava na Cisjordânia, e especialmente na Faixa de Gaza.

 

Durante esse período (1993 a 2000), o Hamas também sofreu apoio público limitado. Peritos palestinos em sondar a opinião pública viam consistentemente que apenas uns meros 14-18% dos entrevistados apoiavam o Hamas, enquanto o dobro apoiava a Fatah. Por esta razão, o Hamas desistiu de participar das eleições palestinas de 1996.

O Irã achou que valia mais a pena investir no Hezbolá, após o acordo de Taif (Arábia Saudita) no Líbano, do que no Hamas. Se ele tivesse jogado suas cartas com habilidade, o Irã poderia possivelmente dominar um estado limítrofe de Israel.

 

A transformação do relacionamento Irã-Hamas

 

As mudanças na arena mundial no novo século transformaram o relacionamento entre o Irã e o Hamas pela terceira vez. A invasão do Iraque em 2003, junto com a violência palestina desde 2000, culminaram com uma vitória eleitoral do Hamas em janeiro de 2006. A violência palestina, a morte de Arafat, além da percepção do Hamas de que eles foram vencidos pelo contra-terrorismo israelense, fizeram com que a organização terrorista tomasse o caminho do realismo político.

 

A vitória do Hamas nas eleições, e a captura de um "quase-estado", poderia ajudar o Irã a se tornar um poder atrás de representantes em busca de uma hegemonia regional. O novo governo encabeçado pelo Hamas tem gravitado cada vez mais em direção ao Irã, à medida que este aumenta sua cooperação com o Hamas.

 

Um prognóstico para a Aliança
 
O Hamas, já que está em uma posição mais vulnerável, está jogando um jogo mais cauteloso. A organização vê a importância do Egito como uma "linha de vida" para Gaza, e está tomando todo o cuidado para não antagonizar o Cairo. Até o momento, o Egito está cooperando com o Hamas, apesar de sua aliança com o Irã, porque o Egito ainda vê Israel como uma grande ameaça, em um balanço clássico de cálculo de ameaça. Entretanto, este relacionamento poderia mudar se o poder do Irã e os vínculos dos palestinos com o terrorismo da al Qaeda no Sinai aumentarem. O seqüestro do correspondente da BBC Alan Johnson, por grupos possivelmente ligados à al Qaeda em março de 2007, e seu envolvimento com inúmeros ataques terroristas a cyber cafés e centros cristãos em Gaza, podem resultar em uma mudança de atitude no Egito, em relação à ameaça islâmica em geral, e do Hamas em particular.

 

O Hamas não pode desconsiderar as implicações de uma aliança de um estado sunita potenciamente moderado entre o Egito, Jordânia e a Arábia Saudita. Como o analista político palestino Abdullah Hourani recentemente observou em um número da revista Majjalat al-Dirasat al-Filastinyya, o Hamas quase não mostrou entusiasmo pela vitória do Hezbolá - parcialmente porque a tríade entre o Irã, Hezbolá e o Hamas é caracterizada pela inveja, como é o caso da maior parte de relacionamentos entre uma potência e seus subordinados. Estes últimos geralmente querem a atenção e benefícios que a potência pode lhes dar. É interessante observar que o envolvimento do Irã-Hezbolá no terrorismo, geralmente ocorreu com grupos renegados da Fatah, ao invés do Hamas.

 

O Hamas também aprecia o valor de seu governo de unidade com a Fatah. O Hamas teve de encarar a hostilidade dos palestinos nacionalistas e mais seculares (Abbas e Fatah), combinado com a oposição dos EUA, Jordânia e Israel - uma formidável força de inimigos. Por estas razões, o Hamas está sabiamente mantendo aberta a opção de saída da aliança iraniana-síria, evitando danos contra cidadãos e interesses americanos em Gaza, se refreando do terror internacional, e evitando abertamente se identificar com a al Qaeda.

 

O Irã, ao contrário, está caminhando em direção a um desastre ao trilhar o mesmo caminho de Muhammad Ali na primeira metade do século dezenove, Jamal Abd al-Nasser um século depois, e Saddam Hussein na década de 90. Talvez o Irã tenha a motivação, mas falta a capacidade necessária para desafiar num campo de jogo internacional, no qual o poder no centro nos dois últimos séculos apenas mudou entre os jogadores da "região norte", ao invés de diversificar ou espalhar mais uniformemente. Se a União Soviética cedeu para os EUA, embora após um longo desafio, o Irã que é tão menos dotado de recursos humanos e naturais, quase não pode desafiar esse fato básico da vida internacional.

 

O que o Hamas pode fazer?

 

Mais cedo ou mais tarde, o Irã encarará o poder bruto dos EUA - sob uma administração republicana ou democrática, ou antes ou depois de Teerã conseguir a bomba - e o desfecho será bem aparente. Naquele momento, o Hamas pode decidir ligar-se ao ocidente para negociar a paz, ao invés de ser parte da tentiva de tentar derrotá-lo, e sofrer por sua vez, uma derrota.

 

Para se conseguir a paz, há necessidade de mudança de mentalidade do Hamas, de um pan-islamismo e pan-arabismo de conquista, para um pan-arabismo de oportunidade criativa. A base desse novo pan-arabismo deve ser uma forma de federação jordaniano-palestina, que permitirá que os palestinos tenham acesso às oportunidades derivadas de um relacionamento mais amigável com a Jordânia moderada e os ricos estados do Golfo.

 

No presente momento, a emergência de um "pan-arabismo criativo" com orientação palestina mais benigna parece forçada. Entretanto, após a falha de sucessivos governos dominados pela Fatah, um governo dominado pelo Hamas, e o governo de unidade do presente, junto com falhas na frente do terror, os palestinos, incluindo o Hamas, poderão reconsiderar uma aproximação diferente, mesmo que essa mudança seja quase inevitável.

 

Fonte: BESA (Perspectives) - The Iran-Hamas Alliance: Threat and Folly, por Hillel Frisch, 1 de maio de 2007.



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